sexta-feira, junho 16, 2006

a chave do insucesso


É quase empírico dizer que temos empresas a mais no país. É banal afirmar que temos excesso de micro empresas e muitas, muitas pequenas e médias empresas. Jornalistas, analistas, e outros mais profissionais com a designação acabadas em “istas” dizem-no vezes sem conta, de forma useira e vezeira.
Aquilo que eu digo é que “algo que torto nasce tarde ou nunca de endireita”. Conheço empresas que laboram de forma organizada e fecham a porta porque não existem condições para continuar.
Imaginemos agora empresas que não têm administrativos ou que tenham “empregados de escritório” feitos à pressão (primos do dono, netos, amigo da prima da mulher). Tracemos este cenário juntando o facto dos sócios, dos gerentes não terem capacidades para gerir, não terem formação, não se formarem. Estaremos por uma numa situação terrível. Estamos, infelizmente, numa situação muito frequente (excessivamente frequente). Conheço dezenas destes exemplos. Vou dar um exemplo: a empresa Beta Lda trabalha para o mercado nacional e comunitário. Tem um volume de negócios superior a 1.000.000,00€, emprega cerca de 30 trabalhadores. Não tem um único funcionário administrativo. Tem toc, numa empresa prestadora de serviços de contabilidade, apenas porque é obrigada. Esta empresa não emite notas de liquidação, não emite recibos aos seus clientes, não faz um controle bancário, não controla contas correntes de fornecedores e clientes. Basicamente esta empresa não faz nada. Trabalha, factura e vai recebendo e pagando conforme calha usando para isso as inevitáveis contas caucionadas, livranças e claro as fantásticas letras!
A relação com a contabilidade é fantástica: entrega uma série de documentos no dia 1 de cada mês mas os últimos documentos vai entregando no dia 8, 9 e 10. Mas não os entrega todos e por isso pelo menos uma modelo C (declaração de substituição de IVA) é inevitável (a de Dezembro).
Como é gerida uma empresa como esta? Não é gerida! Imaginem uma empresa organizada que tem processos definidos, é metódica mas que faz greve. Durante a greve cumpre serviços mínimos como facturar, atender uns telefonemas etc. esta empresa vive em serviços mínimos, sempre.
Claro que esta empresa a “rolar assim” vem a diminuir o volume de negócios ano após ano, os custos financeiros aumentam todos os anos e os extraordinários também. Os custos financeiros ascendem a mais de 80.000€, sensivelmente 8% do volume de negócios. Agora vou dar o melhor exemplo de má gestão: em determinado mês a empresa tinha encomendas suficientes, de um cliente fiel à mais de 8 anos, para manter a empresa a trabalhar quase a 100%. Surgiu então uma encomenda, de um novo cliente, considerável á qual a empresa não tinha capacidade para poder acumular na integra. Os prazos eram apertados e se a empresa não cumprisse, ora com o habitual cliente, ora com o novo cliente debitar-lhe-ia determinada percentagem que seria proporcional aos dias de atraso na entrega da mercadoria. Como é óbvio a empresa não conseguiu entregar a mercadoria nos prazos acordados e por isso sofreu sanções financeiras. Por exemplo: a encomenda do cliente habitual era de cerca de 83.000,00€. A empresa emitiu uma nota de crédito ao cliente de cerca de 20.000,00€. Façamos uma conta rapidamente:
Vendas=84.000,00€
Custo das vendas = – – 50.000€
Pessoal: +- 20.000,00€
Outros custos: +- 6.000,00€
Resultado Operacional 8.000,00€
Custos financeiros – – 6.500,00€
Resultados correntes 1500€
Na prática teria um resultado baixinho, mas nos dias que correm obter 1500€ de lucro depois de pagar ao pessoal, aos órgãos sociais e todos outros custos, para uma empresa nada rigorosa, nada metódica, vai andando para sobreviver.
O problema foi os 20.000€ de resultados extraordinários que a empresa teve com a entrega das mercadorias fora de prazo. Feitas as contas a empresa teve naquele mês um prejuízo real de 18.500,00€.
Infelizmente o prejuízo não fica por aqui pois estes 20.000,00 que a empresa não recebeu levaram a problemas sérios de tesouraria que só não foram fatais pelo facto da empresa abrir mais uma conta caucionada (a 5ª).

O exemplo que dei espelha os problemas que acontecem em empresas que são “geridas” por patrões e não por líderes. Esta é a chave do insucesso.
Estas são as empresas que espezinham os seus trabalhadores, estes são os trabalhadores que vão cair no desemprego depois de anos na precariedade laboral.
Este é o cenário em milhares de empresas que subsistem num carregado sistema fiscal que os governos teimam em não corrigir;
Estes são os governos que nada fazem para para corrigir um sistema fiscal que todos sabem que está esgotado. Uma empresa que seja constituída em Janeiro se estiver no regime de IVA mensal tem de pagar até 10 de Março Iva de vendas que pode receber apenas no final de Março ou Abril. Entretanto tinha de pagar salários de Janeiro e Fevereiro e 23,75% sobre os salários de contribuições para a segurança social. E como? O dinheiro ainda não nasce…
Esta é a situação que temos: poucas empresas grandes, muitas pequenas e médias essencialmente muita desorganização. A existência de muitas empresas deve-se ao facto de nada ser exigido para a constituição de uma sociedade, nenhum alvará para os sócios (agora até se criam empresas na hora). Deve-se também ao facto de termos muitas contribuições e impostos para pagar. Deve-se ao facto da mentalidade “Chico espertista” imperar levando á economia paralela ter bastante peso nas transacções comerciais. Enfim.







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